sábado, 22 de março de 2008

É bom morar numa casa com 12 pessoas quando: (2)

5) Também é bom quando você está apertada pra ir ou banheiro ou com pressa pra escovar os dentes e sair. Você desce o primeiro lance de escada, um só, o banheiro está ocupado. Mais dois lances, outro banheiro ocupado. Mais dois, o banheiro perto da máquina de lavar, ocupado também. Quando você vê, que alegria!, desceu 6 lances de escada e chegou ao banheiro que fica no andar da cozinha. O melhor é quando isso acontece às 5 da manhã quando você está voltando da night.
6) É ótimo quando uma vizinha esquece de trancar a porta do banheiro e você é obrigada a dar de cara com ela de pijama escovando os dentes ou com seu vizinho de 3 metros de altura enrolado na toalha. Tudo bem, poderia ter sido pior, mas não foi super legal.
7) Eu também gosto muito quando alguns vizinhos acham que é legal o tempo cinza de Londres e resolvem reproduzi-lo também na nossa cozinha, fechando todas as cortinas pra ficar muito escuro e o sol não entrar. Será que eles estão tristes porque o inverno está ameaçando acabar? Faz sentido, né.
8) Mais ainda quando você desce pra cozinhar e lá está metade da casa que teve a mesma idéia. Há dois fogões, mas claro que eles deixam pra você o que demora 5 horas pra esquentar. E aí você fica com cara de tacho esperando a água ferver por 3 horas, enquanto eles cozinham mil coisas muito rápido no fogão que funciona direito.
9) E enquanto você faz um macarrão com molho de tomate muito do horroroso, eles fazem tempuras, yakissobas, cheesecake, cookies e diversas outras comidas elaboradas que faz você querer que a cozinha esteja sempre vazia pra que ninguém te veja cozinhando.
10) E quando vocês sentam todos para comer à mesa, ninguém troca uma palavra com o você a não ser que sua língua nativa seja o chinês, o japonês ou algum dialeto da ilha de São Vicente. O que não é exatemente o caso.

Fora isso, eu adoro dividir uma casa com 12 pessoas :)

É bom morar numa casa com 12 pessoas quando: (1)

1) São 8h40, você está tomando café na companhia de duas pessoas que falam chinês entre si e uma delas vira pra você e diz (em inglês, que fique claro, embora pareça chinês): "É a primeira vez que você acorda cedo e vem tomar café, né?". (Tipo, vai-cuidar-da-sua-vida-eu-acordo a-hora-que-eu-quiser?)

2) Você quer cozinhar e comer em paz, mas, quando desce todas as escadas que levam à cozinha (são apenas 6 lances!), lá estão elas, falando em chinês! E, embora sejam simpáticas, continuam falando em chinês, e você fica intimidada, achando que todas estão falando mal de você porque you're so vain. E aí resolve subir de volta os 6 lances de escada e ficar com fome.

3) Você quer lavar roupa e, após descer as escadas (até a máquina de lavar são só 5 lances!), carregando um cesto de roupa suja, sabão em pó e amaciante, a bendita está sendo usada! E você é obrigada a subir de volta os 5 lances de escada e ficar com as roupas sujas.

4) Ou então quando você desce os 5 lances de escada carregando o cesto, o sabão e o amaciante e, viva!, a máquina está vazia. Mas todos os varais estão ocupados. Cansada de já ter feito três viagens em vão durante o dia, você resolve lavar roupa assim mesmo, ligar o aquecedor do seu quarto no máximo e espalhar as roupas para secar nele, na cama, na cadeira, no espelho, no armário. Note que as dimensões do quarto são equivalentes às de um banheiro de avião.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Demorô formá!

tia: tem vários lugares que eu nunca fui, tenho um guia da região, a gente pode passear
eu: demorô
tia: o que que demorô?
eu: demorô = eba
tia: pô, eu não sei mais falar português
tia: vou lá embaixo pegar a carta pra escanear, já volto
eu: ok
(alguns minutos depois...)
tia: eba
eu: ?
tia: quero dizer, "demorei"

segunda-feira, 17 de março de 2008

25 anos de sonho e de sangue e de América do Sul

Bem, meu aniversário não teve bolo e guaraná muitos doces para mim, mas teve pão de queijo, caipirinha, brahma com limão, chuva torrencial, amigos barrados na porta da baronetti, fila surreal, amigos gringos fofos com presentes e cartões, amigo paparazzi gringo sem noção, doorwoman gentil, segurança brutamontes, porrada, sambas desconhecidos, músicas aleatórias, garçons dançando no balcão, pessoas tentando conquistar outras com a infalível cantada "tenho muito dinheiro, sou advogado", guarda-chuva de brinde, ligações de madrugada sem conseguir articular uma palavra sequer, ligações durante o dia, macarrão tosco, starbucks, burger king, bolo de frutas, balão de happy birthday, ursinho, chocolate, show de saint patricks day, pub irlandês mais cheio-insuportável do mundo, amigos e famílias brasileiros mais lindos do mundo, vídeo mais lindo do mundo. E eu ainda reclamo...

sábado, 15 de março de 2008

Don't get me wrong!


Londres é sensacional. Do alto da minha ignorância, descobri tem pouco tempo, graças à uma amiga muito sabida, o Banksy. Vocês que também são muito sabidos devem conhecê-lo. O cara é um artista de rua/grafiteiro que faz desenhos e grafitis maneiríssimos e subversivos espalhados pela cidade. Ele é mega cult e cool (ou era há uns 3 anos e já nem é mais, só eu que acho). Ninguém nunca viu seu rosto: toda vez que vai pintar (grafitar?) ele usa um capuz e uma máscara. Especula-se que Banksy não seja um só, mas um grupo que age na calada da noite londrina. O cara já entrou em museus em Paris, Nova Iorque e Londres e colocou seus quadros no meio dos outros (em Londres, oito dias após colocar uma "falsa" pedra no British Museum sem que ninguém notasse, ligou avisando). Parece que ele doa todo o dinheiro que ganha. E ele ganha muuuuuito dinheiro. Ontem fui numa galeria que está expondo/vendendo o seu trabalho. O desenho mais barato custava 8.500 pounds. O quadro mais caro acho que era 250 mil. A versão warholiana de Kate Moss tinha preço sob consulta. E ele ainda tira onda dizendo que não acredita que as pessoas realmente comprem "that shit". Entrem no site dele para ver mais!

quinta-feira, 13 de março de 2008

Pela primeira vez...

Assolada pela síndrome pós-Brasil-inferno-astral-crise-dos-25, resolvi escrever um primeiro post nesse blog, criado há alguns meses, pouco depois de eu ter aterrissado em terras estrangeiras, mas que permanecia vazio... E agora, que estou de volta a essa massa cinzenta em que se transformou Londres, quero reclamar porque aqui não tem pastel, não tem chope a R$ 2,70, não tem mate de galão nem biscoito globo, que dirá uma praia (podia até ser de pedra, que eu nem reclamava, desde que houvesse sol), não tem torcedores do Flamengo que começam a cantar o hino do clube em pleno belmonte, nem torcedores que fecham o túnel rebouças, nem há túneis por aqui, aliás, assim como não há nada que se assemelhe à Lapa, pelo contrário, há lugares que fecham às 23h, de onde te expulsam com a mais gentil das estratégias de abrir a porta para que o frio entre (e ai de quem ousar fechá-la, vocês têm 5 minutos para terminar de beber), não há trocadores de ônibus que, em plena segunda-feira de calor, descem do ônibus para comprar dois cocos, um pra ele e outro pro motorista, na Lagoa, deixando os passageiros sem entender nada, até porque nem trocadores há, mas máquinas assassinas que engolem o teu dinheiro e te fazem andar no frio porque suas moedas acabaram, muito menos lagoas, o que há é um rio, onde amanhã tem uma festa em um barco, que vai de 19h45 à meia-noite, mas a qual eu não vou, porque o traje é black tie e uma festa black-tie num barco que vai de 19h45 à meia-noite me soa um baita de um programa de índio. Aqui também não tem calor, sabe, daqueles que te fazem sair do banho já suada, passar o dia inteiro reclamando e dormir feliz no ar-condicionado. O que tem aqui são casacos, intermináveis casacos, e camadas de roupa que você acha que um dia vão começar a diminuir, você sonha com o dia em que vai sair de bracinhos de fora e havaianas, exibindo suas unhas não-feitas por aí, mas esse dia não chega jamais. E aí pra piorar você vai fazer 25 anos. Quando eu soprar a vela do meu (não-existente) bolo no sábado, vou pedir pra andar de havaianas, comer pastel (de camarão com catupiry, claro) e pegar um ônibus com um motorista que vai parar pra tomar agua de coco na Lagoa.