terça-feira, 16 de setembro de 2008

Déjà vu

No dia 29 de dezembro de 1992, eu tinha 9 anos, nos mudamos para Paris. E uma das mais fortes lembranças que tenho da minha infância é desse dia e do frio experimentado ainda dentro do saguão do aeroporto, assim que a porta de saída se abriu. Uma sensação que até então não conhecia: um ar gelado, muito gelado, tão gelado que fazia os ossos doerem, o corpo tremer, a fala sumir. Eu e meus irmãos – então uns bebês – tínhamos ganhado uns casacos enormes, com os quais andávamos feito pingüins, e que pouco adiantavam. O frio persistia, aumentando conforme nos dirigíamos para o estacionamento. Eu, que já estava contrariada com a mudança, fiquei bem assustada. Tanto é que nunca esqueci a sensação daquela chegada há quase 16 anos. Hoje, passado todo esse tempo, a caminho de Londres, desembarquei em Paris, no mesmo aeroporto. Embora a temperatura estivesse cerca de 20 graus acima daquele pré-reveillon de 92, me senti como a garotinha que chegou com a família na cidade-luz. Com frio. Muito frio. Quando a porta se abriu para que eu saísse do terminal, os 15 graus deste ainda verão foram como os negativos de 92: gelaram meu corpo. Porque hoje não tinha irmãos para levar pela mão, uma mãe para segurar a minha, um pai para dirigir o carro, uma tia para abotoar meu casaco, tampouco uma bolsa da Pequena Sereia para carregar. Hoje só tinha eu. Eu e a saudade que carrego sempre, desde que decidi que seria forte e corajosa cidadã do mundo, como se eu fosse, como se eu pudesse escolher outro lugar que não o Rio de Janeiro para viver, como se houvesse a possibilidade de algum outro lugar do mundo ser a minha casa.