terça-feira, 6 de maio de 2008

Cannes é o cacete!

A parada mais maneira do universo é o Cans Festival, que aconteceu de sábado até anteontem aqui em Londres. A prefeitura emprestou um túnel, embaixo da estação de trem de Waterloo, e artistas grafiteiros do mundo todo vieram (do Brasil, inclusive). O evento foi anunciado apenas na sexta-feira e arrastou uma multidão de pessoas - 28.544, de acordo com o site oficial - atraídas principalmente pela possibilidade de ver a maior exposição a céu aberto (quer dizer, dentro de um túnel não é exatamente a céu aberto) do Banksy, o meu mais novo ídolo. Os grafitis do "artista da guerrilha", como ele é chamado por aqui, eram sensacionais, pra variar, especialmente um que retratava um gari limpando pinturas rupestres de uma parede. Sempre genial. Mas, além do meu grafiteiro preferido, havia vários do mundo inteiro, cada um mais legal e irreverente do que o outro. As pessoas comuns, "não-artistas-grafiteiras" também podiam pintar, desde que levassem seus sprays e se registrassem para obter um pedacinho de muro - a regra era clara: proibido grafitar em cima do que um amiguinho já tiver pintado. Quando cheguei lá, com minhas amigas do Chile e da França, imaginei que estaria cheio, mas não tinha noção de que ia ficar meia hora numa fila. Foi o que aconteceu, mas valeu muito a pena, a começar pela fila, maior quantidade de pessoas estranhas reunidas ever, muito divertido. Dentro do túnel, eu parecia uma turista japonesa na Disney, tirando fotos frenéticas! Mas é que era tudo muito maneiro! Jornalismo, produção, mestrado, uma ova. Descobri que quando crescer quero ser grafiteira.

A quem interessar possa, o álbum japonês aqui.


domingo, 4 de maio de 2008

24/7

Dizem por aí que a China é o lugar mais populoso do mundo, 1 bilhão de habitantes, blá, blá, blá. Balela. A maior parte da humanidade vive em Londres, isso sim. Para comprovar, basta andar pela Oxford Street num sábado à tarde, ir para Notting Hill num dia de sol ou pegar o metrô às 9h da manhã. Eu dou muita sorte porque raramente preciso andar nos horários de pico, mas acontece. Como na semana passada, em que me dirigia calma, tranqüila e atrasada para trabalhar no lugar mais longe do mundo. Para evitar o engarrafamento matinal, decidi pegar o metrô, seria mais rápido, pensei, ingênua. O que acontece no metrô de manhã é até difícil de descrever. Basicamente são milhões de pessoas ocupando a plataforma, formando uma fila gigante na horizontal, com uns carinhas em cada porta do trem gritando num megafone, tentando organizar a muvuca. Em ocasiões como essa, já tive que esperar três trens passarem para só conseguir entrar, esmagada, no quarto. Enfim, a situação era essa, quando, de repente, não mais que de repente, o que se passa? Soa o alarme de emergência. E aí uma voz manda todo mundo evacuar a estação, os carinhas do megafone fazem coro, gritando para que todos saíam, calma e rapidamente. Eu me pergunto o que terá acontecido? Uma bomba? Incêndio? Atentado é a primeira palavra que me passa pela cabeça. Mas todos ao meu redor estão tão calmos e destemidos, só putos porque iam chegar atrasados ao trabalho, que eu tive que disfarçar que estava com medo. Deixamos a estação pela saída de emergência, nada parecia errado, não havia polícia nem nada. Depois descobri que é procedimento comum evacuarem a estação quando há superlotação, o objetivo é justamente evitar atentados e confusões. Eles aqui vivem em permanente estado de alerta, o que faz a gente pensar sobre as várias faces da violência. Se, por um lado, aqui não tenho medo de andar sozinha às 4h da manhã, hoje, por exemplo, acordei cedo e dei de cara com três policiais olhando para um carro (suspeito, eu presumo) estacionado bem em frente à minha casa. Dobro a esquina, pelo menos uns cinco carros de polícia, inclusive um da "brigada de cachorros", bem frente à faculdade. Alguma coisa parece estar acontecendo, não tenho idéia do quê. O pior é que talvez ninguém saiba, nem a polícia... Aqui a máxima se inverte: todo mundo é culpado até que se prove o contrário.