sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Hell kitchen

Sempre perguntam quem é que cozinha aqui em cima do The Cat and the Cucumber. Roomate e eu temos uma resposta pronta e engraçadinha: "a gente se reveza, cada dia uma tira o nugget do freezer e põe no forno". Nossos dotes culinários são realmente escassos, mulheres independentes e pós-modernas que somos, mas fazemos o básico: macarrão, arroz, salada... Por vezes, quando a vontade de fugir da dissertação é grande, resolvemos inventar. Acreditem, isso acontece com muita freqüência, mas, geralmente, o que acompanha é o desejo de ficar na internet, ir ao cinema, sair - quase nunca de cozinhar.

Mas semana passada foi dia. E eu resolvi fazer pão de queijo com a massa pronta Yoki comprada na loja de produtos latinos recém-descoberta. Parecia simples: misturar a massa com dois ovos e uma xícara e meia de chá de água. Feito. O resultado: péssimo. O troço ficou molengo e era impossível fazer as bolinhas conforme me indicavam as instruções do pacote. Botei água demais, concluí. As xícaras de chá inglesas devem ser maiores do que as brasileiras. Para tentar engrossar a gororoba, comecei a tacar farinha. Adiantou muito pouco. Botei no tabuleiro assim mesmo, as "bolinhas" todas se esparramando. Tente, invente, faça um pão de queijo diferente, pensei. Talvez nem fique ruim.


Paralelamente, recebemos um amigo argentino que ia cozinhar frango com creme de leite e champignon para nós, pobres esfomeadas. Porém, o creme de leite estava azedo e obrigou nosso chef convidado a improvisar, criando um novo prato: frango com champignon e vinho tinto que estávamos bebendo. Ele botou tudo na panela e - tcharam - o frango ficou roxo em segundos, adquirindo uma bela aparência de bife de fígado cru.


Enquanto isso, o pão de queijo, que deveria ser a entrada, continuava esparramado e cru dentro do forno. Comemos, pois, frango roxo com arroz primeiro. Estava feio, mas bastante comível. O pão ficou pra sobremesa. Quase queimado por fora, cru por dentro, sem sal e sem gosto. Uma legítima delícia mineira.


quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Sobre acentos e lavagens de janela

Eu não falo inglês tão mal assim. Mas bastou chegar à terra da Rainha para ver que também não falo assim tão bem. O imperialismo norte-americano arruinou meus anos de estudo em um instituto britânico, me ensinando a falar tudo da maneira como eles não falam por aqui. Aprendi muito mais a falar com os personagens dos filmes e seriados que inundam e destroem a cultura e a identidade nacionais do que com minhas queridas professoras da Cultura Inglesa. O fato é que, mesmo estando aqui há quase um ano, às vezes não entendo absolutamente nada do que as criaturas estão tentando dizer. Bem como nem sempre entendem meu maravilhoso sotaque plural, que mistura entonações do português, do francês, do inglês falado nos EUA e até do espanhol que se habla en Chile. Outro dia, voltando do supermercado, andava na rua conversando - em inglês - com roomate e uma mulher nos parou para perguntar se éramos italianas. Ok. Nosso sotaque é tão exótico a ponto de atrair a atenção de pessoas aleatórias no meio da rua.

O consolo é que, no caldeirão cultural que é Londres, existem sotaques de todos os tipos e formas, como o do proprietário do nosso apartamento, o turco, que fala em inglês como se pertencesse a uma tribo indígena, sem verbos conjugados e tal. É um drama a nossa comunicação. Especialmente ao telefone. Falar ao telefone aqui é o verdadeiro drama, não há nada que eu odeie mais. Porque, ao vivo, a leitura labial muito te ajuda a entender o que as pessoas dizem. Pelo telefone, é um verdadeiro exercício de imaginação. Quando procurávamos apartamento, roomate e eu brigávamos para ver quem seria a próxima a telefonar. A cada ligação, éramos recebidas com um sotaque diferente (e há vários, aqui, além dos estrangeiros, do norte de Londres, da Irlanda, da Irlanda do Norte, da Escócia, cada um mais difícil de entender do que o outro). Para marcar uma visita ao apê, era diversão pura. O cara dizia o nome da rua. A gente não entendia nada. "Você pode soletrar, por favor?". A gente continuava sem entender nada. A solução era tentar adivinhar quais letras ele estava dizendo e depois checar no Google. O resultado da brincadeira foi que nos perdemos ao menos duas vezes.

Eu, que sempre achei super glamouroso o sotaque britânico, já não vejo mais tanta graça assim em falar como se houvesse uma bola de tênis em sua boca. O bom é que estou ficando cada vez melhor em decifrar sotaques e só sofro mesmo para falar ao telefone. Mas é engraçado ver como algumas pessoas, ao notarem que você não é daqui, se esforçam para se fazer entender. Hoje mesmo, estava saindo de casa de manhã, quando dou de cara com um senhor no corredor. Ele vem me dizer que é pai do nosso vizinho e que vai lavar o lado de fora do apartamento do filho, será que eu me importo se ele lavar o nosso também? Diante da minha cara de quem não tava entendendo nada, ele começou a fazer gestos com as mãos, simulando uma lavagem de janela. Eu tinha entendido, moço. Só fiquei sem reação porque não entendi porque diabos alguém quereria lavar a janela do apartamento de pessoas desconhecidas. Mas tudo bem, fique à vontade.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

In the cold november rain

Essa é a música que não sai da minha cabeça, desde que o mês começou, trazendo de volta o tempo que faz a fama de Londres, o frio que faz o corpo doer, a chuva que não cessa, o vento que bate e machuca. Choveu por oito dias consecutivos, sem trégua, sem nem um pedacinho de céu azul pra contar história. Tudo cinza. Às 15h já está ameaçando escurecer. Não é exagero. Inevitável é não perder a noção do tempo, não pensar que a madrugada se aproxima, quando ainda nem é hora do jantar. Inevitável é não deixar a melancolia tomar conta, não ser invadida por uma nuvem cinza, e não ficar pensando em como os poetas têm razão de usar a chuva, o frio, a noite, como metáfora para a tristeza. Inevitável é não escutar Los Hermanos no ipod, enquanto vejo as pessoas apressadas através da janela molhada do ônibus, pensando que a minha pressa é outra, que não quero ir pro mesmo lugar que elas. O consolo é que nada dura para sempre na chuva fria de novembro. Daqui a pouco a maré vira.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Qual é o pente que te penteia?

Como não fiz promessa para santo nenhum, achei que era de bom tom, depois de quase um ano sem fazê-lo, finalmente cortar o meu cabelo. Queria apenas me despedir das pontas, já em estado de arear panela, e fui incentivada por roomate, que resolveu cortar uma franja. A verdade é que fugi dos salões durante esse tempo todo porque não confio em cabeleireiro gringo, que só corta cabelo liso, loiro e lindo. O meu cabelo não nega, preciso de especialistas sensíveis. Pois então, o salão escolhido foi o Hair By Fairy, mas por motivos que nada têm a ver com expertise em cachos: é barato e fica num dos lugares mais fofos de Londres, em Neal's Yard, um bequinho super colorido onde tem até um restaurante brasileiro vegetariano.

Cidade cosmopolita, a moça que lavou meu cabelo era espanhola, e a que cortou, japonesa, loira e ondulada. Quando me viu, japinha arregalou os olhinhos puxados, e me fez uma pergunta que as pessoas adoram fazer por aqui: é de verdade? Se ela soubesse que venho do país da escova progressiva, entenderia que, se meu cabelo fosse originalmente liso, jamais eu faria qualquer coisa para cacheá-lo. Expliquei que, sim, os cachos são naturais. "Desde quando você era criança?", espantou-se. Aham, embora eu tentasse disfarçar. Ela me contou, então, que nunca havia visto cachos tão certinhos, nem aqui, nem no Japão (porque será?). Fiquei feliz com o elogio e deixei a moça cortar um pouco mais do que eu queria, já que acho que estou deixando meu cabelo crescer de novo, mas tudo bem, ao menos me livrei das pontas malditas.

Deixei também que ela brincasse com meu cabelo, no final, botando na minha cabeça todo o volume que ela gostaria de ter na dela. Ela se empolgou, com uma mousse, soltando meu cabelo com os dedos e abrindo todos os meus cachos, deixando um efeito de "frizz" que eu tanto adoro. Tava achando graça, porque eu já sabia que seria assim, disse que gostei, até dei uma gorjeta, porque ela era legal, a japinha. Mas saí do salão e prendi o cabelo imediatamente até chegar em casa, usar meu creme e deixar meus cachinhos do jeito que eu gosto, estilo menos Tina Turner. Pente japonês não me penteia, fato.


sábado, 1 de novembro de 2008

Trick or tits?

Sexta passada, estava no banho, quando escuto baterem na porta com força. Achei que estava alucinando, já que não esperávamos ninguém. Quando saio, encontro roomate nervosa, me relatando o que havia acabado de acontecer. Ela foi até a cozinha quando bateram e abriu a cortina para ver quem era, quando quase morre de susto, pobrecita: eram três monstros! Tínhamos esquecido totalmente que era Halloween e que, no país onde estamos vivendo no momento, eles mantêm a tradição. Ela, então, abriu a porta para as crianças, que, sem cerimônia, entraram na cozinha. Engraçadinhos, até, três garotos com idades entre 9 e 11 anos. Balas chilenas distribuídas, eles quiseram mais, porém. O menorzinho deles virou para roomate e mandou: "Can I see your tits?". É isso mesmo! Ele pediu para ver os peitos de roomate!!! Boquiaberta com a falta de noção, ela expulsou os três monstrinhos, que nem de fantasia precisavam. Depois, ainda recebemos mais algumas crianças que queriam doces, mas vou contar que achei a tradição um tanto quanto assustadora. Abrir a porta para pessoas desconhecidas vestidas de fantasmas, bruxas, monstros e afins? Tudo bem que são crianças, mas eu tô fora. Halloween é o cacete! :)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Os homens de sunga

"Eu sou do Rio". Pronto. Basta dizer essa frase a qualquer brasileiro (não carioca, obviamente) que conheço por aqui para ser recebida com um sorriso amarelo, quando não com uma cara feia. Parece que não gostam muito dos cariocas. Há uns meses, conheci dois meninos do interior paulista num trem. Ficaram surpresos ao descobrir de onde eu era: "nossa, até que você não fala muito daquele jeito nojento". E, como se não estivessem diante de uma (das mais orgulhosas, ainda por cima!), desandaram a falar mal dos cariocas, que somos metidos, antipáticos, insuportáveis. Foi tão surreal eles não terem a menor cerimônia com a minha presença, que achei graça e deixei que continuassem. Eles propuseram, então, um teste para comprovar a minha carioquice, pedindo que eu falasse "esqueci o isqueiro na esquina da escola". E eu falei, cheia de orgulho do meu sotaque chiado. Naturalidade confirmada, o assunto acabou, não quiseram mais interagir comigo. Noutro dia, tem pouco tempo, conhecemos um grupo de latinos num bar. Entre eles, havia um brasileiro. Eu, do alto de toda minha antipatia carioca, tava sem o menor saco para interagir, mas ele veio me perguntar de onde eu era. Resposta concedida, ele vira pra mim: "Ah, eu moro perto". Achei que ele fosse dizer algo do tipo "em Botafogo". "Você sabe o Espírito Santo? É um Estado, fica do lado do Rio, um pouco mais pra cima. A capital é Vitória, mas eu sou de Vila Velha, que é um porto. Já ouviu falar?". Eu não. Achava que só existia o Rio no Brasil.

Como se já não bastasse ter que ouvir a mesma coisa a cada vez que falo pra um gringo que sou brasileira ("jura? deve ser uma loucura, festa, carnaval, drogas, sexo e mulheres de biquini o dia todo!"), ainda preciso lutar contra os estereótipos que os próprios brasileiros - e os latinos - têm contra nós, cariocas inocentes. E dentro da minha casa! Jantavam aqui, além de mim e roomate chilena, uma mineira, uma mexicana e um argentino. Não sei como, o assunto "moda praia" entrou em pauta, a mineira dizendo que apenas as cariocas usam biquini fio-dental, as mineiras, capixabas, pernambucanas e etc jamais! O argentino, que já visitou o Brasil algumas vezes, contou que se sente um alien quando vai à praia de bermuda no Rio, cercado por homens de sunga. Foi então que descobri que, ao menos para chilenas, mexicanas, mineiras e argentinos, não é normal homem usar sunga na praia - é brega, feio, estranho, desconfortável para quem usa e para quem vê, argumentaram. Eu nunca tinha parado pra pensar nisso, já que, como boa carioca, estou mais do que acostumada a ver pessoas com pouca roupa. Disse que não achava nada demais. Mas eles insistiram. E eu parei de discutir, blasé como devem ser aqueles nascidos na cidade maravilhosa.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

The Cat and the Cucumber

Segunda-feira de manhã, cortina do banheiro instalada, tomávamos café da manhã felizes, contando, inclusive, com a companhia do proprietário do apartamento, que, depois dos consertos, se sentou com a gente. O turco estava de bom humor e resolveu nos falar sobre as belezas de seu país natal, tentando nos convencer a visitar a Turquia agora, porque é a melhor época, nem muito calor, nem muito frio. Estávamos até começando a esquecer do surto anterior - na véspera da nossa mudança, quando às 22h da noite ele ligou querendo que a gente lavasse pratos no restaurante no dia seguinte! - quando de repente, não mais do que de repente, uma mulher abre a porta da nossa casa. Gritando num idioma irreconhecível, joga duas notas de 20 pounds no chão da nossa cozinha. O turco, então, se levanta, como se não fosse nada, recolhe o dinheiro e tira do bolso um outro punhado, que entrega à mulher. Sem entender absolutamente nada do que havia acabado de se passar, roomate e eu nos olhamos, nos interrogando acerca de inúmeras questões: quem é essa mulher? como assim ela abriu a porta da nossa casa sem bater? porque diabos ela tacou dinheiro no chão da nossa cozinha? o que foi isso? A única pergunta respondida foi a primeira: a mulher é a esposa do turco, e, aparentemente, trabalha com ele no restaurante também. Depois do ocorrido, ele até tentou fazer graça, dizendo que ela estava com ciúmes, mas, diante de nossas caras de poucos amigos, começou a se desculpar sem parar. Reclamamos, dissemos que era um absurdo alguém abrir a porta sem bater, mas não nos restou muita alternativa a não ser dizer que tava tudo ok. Algo me diz que esse será apenas um dos muitos momentos memoráveis da vida em cima do "The Cat and The Cucumber"...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Do lado de dentro

Sempre reclamei da falta de tempo em terras estrangeiras, que as horas corriam mais rápido do que o normal e que os minutos gringos eram mais curtos do que os brasileiros. Agora que tenho uma “casa”, engraçado, o tempo já não parece mais acelerado. Não apenas a percepção temporal se tornou habitual, como também tenho a sensação de estar vivendo num lugar de verdade. Saí de um museu e agora há mulheres grávidas nos ônibus, crianças brincando de pique-esconde nos corredores do prédio, vizinhos que dão bom dia, motoristas que não param no ponto, engarrafamentos intermináveis, máquina de lavar que quebra, água quente que esfria... Londres agora parece uma cidade menos de fantasia e mais real.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Déjà vu

No dia 29 de dezembro de 1992, eu tinha 9 anos, nos mudamos para Paris. E uma das mais fortes lembranças que tenho da minha infância é desse dia e do frio experimentado ainda dentro do saguão do aeroporto, assim que a porta de saída se abriu. Uma sensação que até então não conhecia: um ar gelado, muito gelado, tão gelado que fazia os ossos doerem, o corpo tremer, a fala sumir. Eu e meus irmãos – então uns bebês – tínhamos ganhado uns casacos enormes, com os quais andávamos feito pingüins, e que pouco adiantavam. O frio persistia, aumentando conforme nos dirigíamos para o estacionamento. Eu, que já estava contrariada com a mudança, fiquei bem assustada. Tanto é que nunca esqueci a sensação daquela chegada há quase 16 anos. Hoje, passado todo esse tempo, a caminho de Londres, desembarquei em Paris, no mesmo aeroporto. Embora a temperatura estivesse cerca de 20 graus acima daquele pré-reveillon de 92, me senti como a garotinha que chegou com a família na cidade-luz. Com frio. Muito frio. Quando a porta se abriu para que eu saísse do terminal, os 15 graus deste ainda verão foram como os negativos de 92: gelaram meu corpo. Porque hoje não tinha irmãos para levar pela mão, uma mãe para segurar a minha, um pai para dirigir o carro, uma tia para abotoar meu casaco, tampouco uma bolsa da Pequena Sereia para carregar. Hoje só tinha eu. Eu e a saudade que carrego sempre, desde que decidi que seria forte e corajosa cidadã do mundo, como se eu fosse, como se eu pudesse escolher outro lugar que não o Rio de Janeiro para viver, como se houvesse a possibilidade de algum outro lugar do mundo ser a minha casa.


segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Só pra deixar registrado

Que eu vi o Josh Hartnett na sexta-feira.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Você é tão gay e eu beijei uma garota

Já que eu tenho falado sozinha ultimamente, resolvi fazer uma pergunta aos meus leitores. Essa música também está fazendo sucesso no Brasil? Porque aqui, toca o tempo todo. Eu acabei de ver o clipe no youtube e achei o pior de todos os tempos. É de uma tal de Katy Perry, americana que ficou famosa com seu primeiro single "Ur so gay", canção escrita para se vingar de um ex-namorado que virou gay. Depois disso, parece que ela resolveu experimentar e beijar garotas também. "I kissed a girl" é muito ruim, especialmente porque toca tipo "My heart will go on" na época de Titanic. "Ur so gay" é mais engraçada, a letra zoa o visual emo/indie do cara, dizendo que espera que ele se enforque com seu echarpe da H&M e o clipe mostra as fotos dele no facebook. Ainda assim, me questiono sobre a abordagem comercial/musical da temática... E sobre o fato de, no clipe de "I kissed a girl", a Katy acordar no fim, dando a entender que tudo não passou de um sonho, afinal, "that's not what good girls should do". Britney Spears faria melhor.

domingo, 27 de julho de 2008

Pérolas de sabedoria...

Uma das coisas boas de conhecer gente de várias partes do mundo, é que você aprende um monte de coisas super úteis. Eu aprendi, por exemplo, que, no Japão, todo mundo usa a mesma água da banheira. Pressupõe-se que as pessoas tomem uma ducha antes de entrar na banheira, mas, ainda assim, por mais ecológico que o ato seja, me parece um tanto quanto anti-higiênico. Se você é visita, porém, tem o direito a entrar primeiro na banheira. E como eles fazem se há mais de um visitante?

Também aprendi que aquela música gravada por aquele grupo formado num programa estilo American Idol do SBT, Broz, "sim, sim, sim, esse amor é tão profundo, você é minha prometida eu vou gritar pra todo mundo", é uma versão de um clássico colombiano do Carlos Vives, um cantor super estrela, orgulho nacional, tipo a Shakira.

Aprendi, ainda, que os chilenos, que falam praticamente um dialeto que não se pode chamar exatamente de espanhol, usam a palavra "pololo" para namorado e "polola" para namorada. Um casal está, pois, pololando. Vem do nome de uma mosquinha, que fica rondando a cabeça das pessoas! Expressão mais fofa!


sábado, 19 de julho de 2008

É só um grupo!

Acabei sendo convencida de que a Galeria Uffizi valia a visita, pelos quadros das Tartarugas Ninjas que lá se encontram e, contrariada, entrei no museu em que jurei jamais pisar novamente! Tirando o fato de que os italianos não sabem construir nem conservar museus (fazia 40 graus lá dentro e o sol batia em um monte de quadros - não sou especialista nem nada, mas algo me diz que isso não deve fazer muito bem a pinturas que têm vários séculos de existência), a Galeria realmente vale a pena, muitos clássicos, daqueles que a gente cresce vendo em livros, etc. Mas, o melhor de tudo foi o comentário de duas brasileiras, na sala dedicada ao Botticelli. A galera se espremendo pra ver "O Nascimento da Vênus" e "Primavera". As duas, do lado oposto, apontaram para "Primavera" e uma perguntou para a outra: "Nossa, tem tanta gente ali! Aquele quadro é famoso ou é só um grupo de turistas?". A outra respondeu: "É só um grupo". Vejam bem, não quero soar esnobe nem nada, porque eu também não faço idéia do que são a maioria das obras que vi, mas que foi engraçado, isso foi.

domingo, 13 de julho de 2008

É o catzo!

Todo mundo sonha com a Itália, porque os italianos são lindos, falam alto, comem bem, são parecidos com os brasileiros, etc. Embora reconheça a importância do país da bota para a história da arte mundial, tenho dificuldade para entender o porquê de tamanha comoção quando o assunto é a pátria Azurra. Minha segunda visita à Itália apenas serviu para confirmar as desconfianças que tinha: os italianos não são todos lindos, pelo contrário, boa parte é racista, machista, mal educada, grosseira, antipática, apenas para citar alguns adjetivos que vieram à minha mente.

Tínhamos chegado há dois minutos em Pisa, onde pegaríamos um trem para Florença. Havia apenas cinco minutos para chegarmos até a plataforma, que eu não tinha idéia de onde ficava. Perguntei, pois, para o moço que vendia os bilhetes, se daria tempo de pegarmos o trem. Resposta: "Não sei, eu não vou pegar trem nenhum". Simpatia é quase amor. Mas beleza, ignoramos, afinal, tínhamos acabado de chegar, e estávamos na Itália, essa terra tão cantada.

Primeiro dia em Florença, cidade invadida por turistas de forma nunca dantes vista: fila gigantesca para entrar em todos os lugares! Eis que tivemos uma idéia genial. Comprar ingresso com antecedência para a Galeria Uffizi, assim não precisaríamos enfrentar fila. O ingresso para jornalistas era de graça, como acontece em alguns museus na Europa; eu apenas precisaria pagar a taxa de reserva. Porém, não tenho a carteira do sindicato, apenas uma de um lugar onde trabalhei. Como sei que não é oficial, geralmente falo "olha, tenho essa carteira do Brasil, vocês aceitam?". Até hoje, apenas um museu recusou. E foi o que fiz na Itália, pro meu mais amargo arrependimento. Tive o azar de cair no italiano mais escroto (com o perdão da palavra) de toda a Itália. O cara começou ironizando a minha carteira, dizendo que eu tinha feito um bom trabalho no computador. Perguntou a minha idade e, achando que eu tava zonando com a cara dele, zonou da minha cara também, duvidando do meu quarto de século. Mostrei minha identidade, mas o cara continuava me sacaneando, dessa vez achando hilário que a carteira apresentada datasse de 2003 ("ah, mas claro, faz 5 anos que você é jornalista"). E eu fui ficando puta, muito puta, porque quem é esse idiota para tratar as pessoas assim? A gota d´água foi quando ele falou que eu devia ser uma jornalista realmente muito importante. Na moral, vai catar coquinho, pra não dizer outra coisa. Arranquei meus documentos da mão dele e resolvi que não ia mais naquele museu.

Nessas horas você se sente muito idiota por não falar a língua. Porque se fosse no Brasil e alguém me destratasse dessa forma, eu ia fazer um escândalo, mandar chamar o gerente, o dono do museu, o Berlusconi, ressuscitar o Boticelli e o escambau. Mas não fiz nada, apenas fui embora e fiquei emburrada o resto do dia, arrependida por não ter feito um escândalo ou dado um soco na cara do idiota.

Eu não quero generalizar nem nada, essa é apenas a minha impressão, corroborada por amigos que estão vivendo lá e passando vários perrengues porque são estrangeiros. Tenho certeza de que há italianos muito legais escondidos em algum lugar, só não tive a sorte de cruzar com nenhum deles. E se alguém for a Florença qualquer dia desses, por favor, vingue-se do bilheteiro escroto da galeria Uffizi por mim!

sábado, 12 de julho de 2008

Coluna 2

Sei que o blog anda meio abandonado, mas é por razões justas. A nova coluna já está no site. Cliquem aqui!

Beijos saudosos!

sábado, 28 de junho de 2008

Solteiros e Solteiras

Pois é, agora tenho uma coluna no site Solteiros & Solteiras! A idéia é dar dicas de Londres e de outros lugares que eu visitar focando no público acima de 30 que está na pista pra negócio ;)
Será quinzenal e eu vou dividir o espaço com um outro jornalista, que vive em Portugal. Entrem lá!

Para acessar, é preciso se cadastrar no site, clicando aqui. Aguardo opiniões e sugestões!


quarta-feira, 25 de junho de 2008

Eu quero ver tu rebolar

Ontem foi o tão esperado show do Mr. Catra + Carlinhos Brown, para o qual comprei ingresso num dia de surto, há quase dois meses. Quando cheguei, atrasada, Catra já "cantava" para uma platéia quieta, que não entendia direito o que acontecia no palco. O funkeiro se apresentou apenas acompanhado do que eu acho que era um DJ, embora o cara tocasse uma espécie de bateria com os dedos. O melhor de tudo é que o autor de grandes clássicos da música brasileira virou "cult" em Londres. Tirou onda de Racionais Mcs, cantando uns raps engajados; de Marcelo D2, fazendo apologia às drogas; e até mandou um Tim Maia, acreditem se quiserem. Tocou meu coração e de todos os presentes cantando "vou pedir pra você voltar, vou pedir pra você ficar". Lindo. Pra finalizar, cantou uma versão light de "Na quatro por quatro", estilo clip do 50Cent na MTV, quando rolam aqueles "píís" em cima dos palavrões. Como todo artista brasileiro que se apresenta aqui, mandou uma mensagem para quem vive em Londres e tentou convencer os presentes de que a situação no Brasil tá melhorando e a corrupção acabando. Acho até que o Catra pode ter enganado os ingleses com sua versão politicamente correta, porque foi aplaudido e tudo. Mas a mim, que sou da malandragem carioca, ele não engana não !

Meia hora de intervalo e chegou o momento mais esperado da noite, a atração principal, aquele que todos (menos eu) foram ver: Carlinhos Brown. A banda dele é legal, as backing vocais afinadas, bonitas e animadas - fariam bastante sucesso se o líder da banda se trancasse num estúdio com seu cocar de índio e ficasse compondo pra Marisa Monte pra sempre. Gostei quando eles cantaram Magamalabares e Carnavália, embora prefira as versões originais. O mais impressionante foi ver como a platéia gosta de músicas de babalorixás e afins. O público era composto por 85% de ingleses, que atenderam prontamente ao pedido baiano de "tirem os pés do chão" e dançaram a noite toda. Totalmente sem jeito, mas dançaram. E cantaram, tudo errado também, mas cantaram. Eu fui embora antes do final, ainda impressionada com a quantidade de fãs ingleses que o Brown tem.

Mas, o melhor de tudo mesmo foi sair de vestido e rasteirinha, como se eu tivesse indo pra Lapa numa noite estrelada ;)


terça-feira, 10 de junho de 2008

Momento promoção

Mas então, vocês já conhecem o Brechó da Bruxá? É o brechó online da minha amiga Samantha. Em parceria com meu blog super popular, Sam está lançando uma promoção: diga que é minha amiga e ganhe 10% de desconto em qualquer compra. Com frete grátis para o Rio de Janeiro! Para tal, basta mandar um email para brechodabruxa@gmail.com com o assunto "Sou amiga da Maíra" e fazer seus pedidos. Boas compras! :)

domingo, 8 de junho de 2008

Damn...

Damn! Oversleeping again
Damn! I can't believe I did it once again
I can make it in time
if I jump out of bed
if I skip to wear clothes
and get running instead
if I get on my feet
if I skip to hit snooze
if I don't care to eat
and get running instead
I can make it in time
Been oversleeping on Monday
I don't care let's pretend that it's Sunday

*I'm from Barcelona

Minha música preferida no momento, super me identifico. Quando uma pessoa precisa botar o despertador às 6h30 da manhã pra conseguir levantar às 9h, deve ser porque ela tem sérios problemas. Né não?

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Só em Londres mesmo...

...para eu ir assistir a um show da Daniela Mercury. Me ligaram na segunda-feira para dizer que era a felizarda ganhadora de quatro ingressos para ver de pertinho a verdadeira rainha do axé brasileiro. Pulei de alegria e convoquei três amigas para dançar o ilê-ayê na terça-feira à noite. O show estava marcado para às 21h. Melhor chegar umas 20h e pouco, já que tenho que pegar os ingressos antes, pensei, com a mentalidade londrina que aos poucos vai tomando conta. Nem chegamos tão cedo assim: 20h30 estávamos na porta do Guanabara, a versão londrina do Scala. Meu nome estaria na "guest list", e a ela me dirigi. Um rapaz com um moicano super estiloso me recebe, falando em inglês. Eu digo que ganhei ingressos, em inglês, "I won". Moicano, esperto, me indica, em inglês, a bilheteria. Não, repito, "I won". Rapazinho, tirando uma onda de que não entendia o meu inglês com sotaque brasileiro, estava a pensar que eu queria ingressos ("I want"). Não, não quero, ganhei ingressos e sou VIP, moicano, me deixe entrar logo. Moicano custava a acreditar em mim. Nessa altura, ele resolveu revelar que era brasileiro também - como se ele ainda não tivesse percebido que, pelo meu nome e dado o evento ao qual eu comparecia, enormes eram as chances de compartilharmos da mesma nacionalidade - e falou em português claro: "seu nome não está na lista". Ah, moicano, eu realmente estou tentando dar uma de malandra numa terça-feira chuvosa tentando fingir que sou VIP para ver a Daniela Mercury de graça.

A brincadeira já durava uns 10 minutos e começava a perder a graça. Moicano me irritava sobremaneira pedindo pra eu dar licença pras outras pessoas passarem. Resolvi, pois, ligar para o Scala londrino e reclamar meus direitos. Cinco minutos depois, chega a mocinha brasileira, "oi, tudo bem?", como se nada tivesse acontecido. Reclamei, claro, e ela se desculpou, falha deles. Tudo bem, deixei pra lá, afinal estava adentrando o Scala para ver a rainha do axé, sem motivos para me aborrecer.

Show marcado para às 21h, certo? "De que horas" o show foi começar? 22h50. Dani se achando a rainha da cocada preta. Não sei se eles atrasaram tanto o show com a esperança de a casa lotar para Daniela não chorar diante do menor público de sua vida; se queriam que a galera gastasse dinheiro no bar matando saudades do Brasil bebendo Brahma e comendo pão-de-queijo ou se eles queriam mesmo dar uma lição na Dani e deixar ela aprender que não, não é ninguém, para que ela passasse pela experiência de ter metade do seu público debandando em massa às 23h40. O metrô em Londres fecha meia-noite, as pessoas precisam voltar pra casa, mas os produtores brasileiros (aposto que o Moicano fazia parte dessa galera) não pensaram nisso, é claro. E metade do povo foi embora com apenas 40 minutos de apresentação...

Mas, tirando tudo isso, até que o show foi legal. Voltei aos meus 8 anos de idade quando passava tardes fazendo coreografias para "quem é que sobe a ladeira" e "deixa eu curtir o ilê e o charme da liberdade". Daniela, aliás, só cantou essas músicas velhas e de outros artistas. Até começou a cantar uma música nova, acho, lenta, mas desistiu no meio e mandou "zuzuzubaba". Disse que cantaria a música lenta em outro lugar. E despediu-se, às 1h15 da manhã, com "o canto dessa cidade é meu", lembrando a todos nós, brasileiros morando longe de casa, que nunca estamos sós, porque sempre teremos o canto das nossas cidades. Poesia pura.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Cannes é o cacete!

A parada mais maneira do universo é o Cans Festival, que aconteceu de sábado até anteontem aqui em Londres. A prefeitura emprestou um túnel, embaixo da estação de trem de Waterloo, e artistas grafiteiros do mundo todo vieram (do Brasil, inclusive). O evento foi anunciado apenas na sexta-feira e arrastou uma multidão de pessoas - 28.544, de acordo com o site oficial - atraídas principalmente pela possibilidade de ver a maior exposição a céu aberto (quer dizer, dentro de um túnel não é exatamente a céu aberto) do Banksy, o meu mais novo ídolo. Os grafitis do "artista da guerrilha", como ele é chamado por aqui, eram sensacionais, pra variar, especialmente um que retratava um gari limpando pinturas rupestres de uma parede. Sempre genial. Mas, além do meu grafiteiro preferido, havia vários do mundo inteiro, cada um mais legal e irreverente do que o outro. As pessoas comuns, "não-artistas-grafiteiras" também podiam pintar, desde que levassem seus sprays e se registrassem para obter um pedacinho de muro - a regra era clara: proibido grafitar em cima do que um amiguinho já tiver pintado. Quando cheguei lá, com minhas amigas do Chile e da França, imaginei que estaria cheio, mas não tinha noção de que ia ficar meia hora numa fila. Foi o que aconteceu, mas valeu muito a pena, a começar pela fila, maior quantidade de pessoas estranhas reunidas ever, muito divertido. Dentro do túnel, eu parecia uma turista japonesa na Disney, tirando fotos frenéticas! Mas é que era tudo muito maneiro! Jornalismo, produção, mestrado, uma ova. Descobri que quando crescer quero ser grafiteira.

A quem interessar possa, o álbum japonês aqui.


domingo, 4 de maio de 2008

24/7

Dizem por aí que a China é o lugar mais populoso do mundo, 1 bilhão de habitantes, blá, blá, blá. Balela. A maior parte da humanidade vive em Londres, isso sim. Para comprovar, basta andar pela Oxford Street num sábado à tarde, ir para Notting Hill num dia de sol ou pegar o metrô às 9h da manhã. Eu dou muita sorte porque raramente preciso andar nos horários de pico, mas acontece. Como na semana passada, em que me dirigia calma, tranqüila e atrasada para trabalhar no lugar mais longe do mundo. Para evitar o engarrafamento matinal, decidi pegar o metrô, seria mais rápido, pensei, ingênua. O que acontece no metrô de manhã é até difícil de descrever. Basicamente são milhões de pessoas ocupando a plataforma, formando uma fila gigante na horizontal, com uns carinhas em cada porta do trem gritando num megafone, tentando organizar a muvuca. Em ocasiões como essa, já tive que esperar três trens passarem para só conseguir entrar, esmagada, no quarto. Enfim, a situação era essa, quando, de repente, não mais que de repente, o que se passa? Soa o alarme de emergência. E aí uma voz manda todo mundo evacuar a estação, os carinhas do megafone fazem coro, gritando para que todos saíam, calma e rapidamente. Eu me pergunto o que terá acontecido? Uma bomba? Incêndio? Atentado é a primeira palavra que me passa pela cabeça. Mas todos ao meu redor estão tão calmos e destemidos, só putos porque iam chegar atrasados ao trabalho, que eu tive que disfarçar que estava com medo. Deixamos a estação pela saída de emergência, nada parecia errado, não havia polícia nem nada. Depois descobri que é procedimento comum evacuarem a estação quando há superlotação, o objetivo é justamente evitar atentados e confusões. Eles aqui vivem em permanente estado de alerta, o que faz a gente pensar sobre as várias faces da violência. Se, por um lado, aqui não tenho medo de andar sozinha às 4h da manhã, hoje, por exemplo, acordei cedo e dei de cara com três policiais olhando para um carro (suspeito, eu presumo) estacionado bem em frente à minha casa. Dobro a esquina, pelo menos uns cinco carros de polícia, inclusive um da "brigada de cachorros", bem frente à faculdade. Alguma coisa parece estar acontecendo, não tenho idéia do quê. O pior é que talvez ninguém saiba, nem a polícia... Aqui a máxima se inverte: todo mundo é culpado até que se prove o contrário.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Respeitável público...

Mas então, eu e Zaira, num surto de semi-bêbadas, resolvemos que seria uma grande idéia criar um blog em conjunto, para escrevermos em inglês, dando dicas de Londres. Em inglês para nossos amiguinhos daqui poderem socializar também, disse a quase-xará. Que amiguinhos daqui, eu gostaria de perguntar!? Mas tudo bem, muito embora não tenha amigos aqui, apenas vizinhos chineses, gostei da idéia e topei. E assim nasce "Mind The Girls", o blog que nós lançará ao estrelato na blogosfera mundial. Preparem-se.

sábado, 26 de abril de 2008

Carpe diem

O bom de morar numa cidade que é conhecida internacionalmente por ser cinza, fria e chuvosa, é que isso te impulsiona a viver naquele esquema "resoluções de ano novo", aproveitando a vida ao máximo, porque nunca se sabe o dia de amanhã. Explico. A primavera começou há quase um mês, mas tirando as vitrines com roupas coloridas e umas flores (que devem ser sintéticas) espalhadas por aí, ainda tava parecendo janeiro. Mais frio do que janeiro, aliás. Porém, o sol resolveu dar as caras, permitindo a concretização do meu sonho de sair de bracinhos de fora. E aí, o que você e todos os londrinos fazem quando isso acontece? Se apressam em ir pra rua, braços de fora, havaianas nos pés para os mais ousados, correndo para o pedacinho de grama mais próximo, para um banco na rua, ou até para uma calçada suja, não importa, o importante é garantir seu lugar ao sol. Alegria pura: as crianças brincam nos parques, os cachorros correm felizes, os namorados namoram ensolarados, os intelectuais lêem sob o sol, amigos fazem piqueniques com sanduíches de supermercado. E você, já entendeu que é melhor imitar e aproveitar também, pois nunca se sabe o dia de amanhã. Pode ser que amanheça nevando, que a temperatura caía drasticamente e que chova por três semanas seguidas.

domingo, 20 de abril de 2008

Londres é sensacional - 2

Pois bem. E não é que o Banksy resolveu agir pertinho aqui de casa? Logo ali numa tranversal da Oxford Street. Eu fui lá ver, assim como dezenas de outras pessoas. Parece que esse foi a maior das pixações que ele já fez no centro de Londres. O cara conseguiu pular a grade de proteção de um prédio dos Correios e pintou, bem embaixo de uma câmera de vigilância, uma crítica a essa sociedade BBB em que vivemos. O lance é que, apesar de estar sendo filmado, ninguém fez nada para detê-lo. Provavelmente o cara que vigiava a câmera estava dormindo.

Adoro.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Tempo, tempo, tempo, mano velho...

Não sei, é a primeira vez que fico tanto tempo longe de casa, mas dentre as várias sensações novas que morar sozinha num outro país traz, a que me causa mais estranhamento é sentir constantemente que vivo em outra dimensão. Aqui, os minutos não passam com a mesma velocidade. Acho que pode ter a ver com essa história de meridiano de Greenwich misturada com Harry Potter e seus poderes de andar pra frente e pra trás no tempo. Ainda não cheguei lá, mas o fato é que as horas aqui parecem mais curtas. Se no Brasil eu teria tempo de acordar às 13h, ler todo o jornal, ver televisão, ir à praia, almoçar, tirar um cochilo e ir pra night, aqui apenas ler o jornal e almoçar me tomaria o dia inteiro. O mesmo acontece com algumas amigas imigrantes, que têm teorias, acham que é porque pensamos em inglês o dia inteiro, o que exige certo esforço e nos deixa cansadas, ou então dizem que é porque tudo é diferente, não é nossa rotina normal... Sei lá, mas é um sentimento estranho, o de sempre achar que falta tempo, falta tanto, pra ele correr macio como um novo sedã...

sábado, 22 de março de 2008

É bom morar numa casa com 12 pessoas quando: (2)

5) Também é bom quando você está apertada pra ir ou banheiro ou com pressa pra escovar os dentes e sair. Você desce o primeiro lance de escada, um só, o banheiro está ocupado. Mais dois lances, outro banheiro ocupado. Mais dois, o banheiro perto da máquina de lavar, ocupado também. Quando você vê, que alegria!, desceu 6 lances de escada e chegou ao banheiro que fica no andar da cozinha. O melhor é quando isso acontece às 5 da manhã quando você está voltando da night.
6) É ótimo quando uma vizinha esquece de trancar a porta do banheiro e você é obrigada a dar de cara com ela de pijama escovando os dentes ou com seu vizinho de 3 metros de altura enrolado na toalha. Tudo bem, poderia ter sido pior, mas não foi super legal.
7) Eu também gosto muito quando alguns vizinhos acham que é legal o tempo cinza de Londres e resolvem reproduzi-lo também na nossa cozinha, fechando todas as cortinas pra ficar muito escuro e o sol não entrar. Será que eles estão tristes porque o inverno está ameaçando acabar? Faz sentido, né.
8) Mais ainda quando você desce pra cozinhar e lá está metade da casa que teve a mesma idéia. Há dois fogões, mas claro que eles deixam pra você o que demora 5 horas pra esquentar. E aí você fica com cara de tacho esperando a água ferver por 3 horas, enquanto eles cozinham mil coisas muito rápido no fogão que funciona direito.
9) E enquanto você faz um macarrão com molho de tomate muito do horroroso, eles fazem tempuras, yakissobas, cheesecake, cookies e diversas outras comidas elaboradas que faz você querer que a cozinha esteja sempre vazia pra que ninguém te veja cozinhando.
10) E quando vocês sentam todos para comer à mesa, ninguém troca uma palavra com o você a não ser que sua língua nativa seja o chinês, o japonês ou algum dialeto da ilha de São Vicente. O que não é exatemente o caso.

Fora isso, eu adoro dividir uma casa com 12 pessoas :)

É bom morar numa casa com 12 pessoas quando: (1)

1) São 8h40, você está tomando café na companhia de duas pessoas que falam chinês entre si e uma delas vira pra você e diz (em inglês, que fique claro, embora pareça chinês): "É a primeira vez que você acorda cedo e vem tomar café, né?". (Tipo, vai-cuidar-da-sua-vida-eu-acordo a-hora-que-eu-quiser?)

2) Você quer cozinhar e comer em paz, mas, quando desce todas as escadas que levam à cozinha (são apenas 6 lances!), lá estão elas, falando em chinês! E, embora sejam simpáticas, continuam falando em chinês, e você fica intimidada, achando que todas estão falando mal de você porque you're so vain. E aí resolve subir de volta os 6 lances de escada e ficar com fome.

3) Você quer lavar roupa e, após descer as escadas (até a máquina de lavar são só 5 lances!), carregando um cesto de roupa suja, sabão em pó e amaciante, a bendita está sendo usada! E você é obrigada a subir de volta os 5 lances de escada e ficar com as roupas sujas.

4) Ou então quando você desce os 5 lances de escada carregando o cesto, o sabão e o amaciante e, viva!, a máquina está vazia. Mas todos os varais estão ocupados. Cansada de já ter feito três viagens em vão durante o dia, você resolve lavar roupa assim mesmo, ligar o aquecedor do seu quarto no máximo e espalhar as roupas para secar nele, na cama, na cadeira, no espelho, no armário. Note que as dimensões do quarto são equivalentes às de um banheiro de avião.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Demorô formá!

tia: tem vários lugares que eu nunca fui, tenho um guia da região, a gente pode passear
eu: demorô
tia: o que que demorô?
eu: demorô = eba
tia: pô, eu não sei mais falar português
tia: vou lá embaixo pegar a carta pra escanear, já volto
eu: ok
(alguns minutos depois...)
tia: eba
eu: ?
tia: quero dizer, "demorei"

segunda-feira, 17 de março de 2008

25 anos de sonho e de sangue e de América do Sul

Bem, meu aniversário não teve bolo e guaraná muitos doces para mim, mas teve pão de queijo, caipirinha, brahma com limão, chuva torrencial, amigos barrados na porta da baronetti, fila surreal, amigos gringos fofos com presentes e cartões, amigo paparazzi gringo sem noção, doorwoman gentil, segurança brutamontes, porrada, sambas desconhecidos, músicas aleatórias, garçons dançando no balcão, pessoas tentando conquistar outras com a infalível cantada "tenho muito dinheiro, sou advogado", guarda-chuva de brinde, ligações de madrugada sem conseguir articular uma palavra sequer, ligações durante o dia, macarrão tosco, starbucks, burger king, bolo de frutas, balão de happy birthday, ursinho, chocolate, show de saint patricks day, pub irlandês mais cheio-insuportável do mundo, amigos e famílias brasileiros mais lindos do mundo, vídeo mais lindo do mundo. E eu ainda reclamo...

sábado, 15 de março de 2008

Don't get me wrong!


Londres é sensacional. Do alto da minha ignorância, descobri tem pouco tempo, graças à uma amiga muito sabida, o Banksy. Vocês que também são muito sabidos devem conhecê-lo. O cara é um artista de rua/grafiteiro que faz desenhos e grafitis maneiríssimos e subversivos espalhados pela cidade. Ele é mega cult e cool (ou era há uns 3 anos e já nem é mais, só eu que acho). Ninguém nunca viu seu rosto: toda vez que vai pintar (grafitar?) ele usa um capuz e uma máscara. Especula-se que Banksy não seja um só, mas um grupo que age na calada da noite londrina. O cara já entrou em museus em Paris, Nova Iorque e Londres e colocou seus quadros no meio dos outros (em Londres, oito dias após colocar uma "falsa" pedra no British Museum sem que ninguém notasse, ligou avisando). Parece que ele doa todo o dinheiro que ganha. E ele ganha muuuuuito dinheiro. Ontem fui numa galeria que está expondo/vendendo o seu trabalho. O desenho mais barato custava 8.500 pounds. O quadro mais caro acho que era 250 mil. A versão warholiana de Kate Moss tinha preço sob consulta. E ele ainda tira onda dizendo que não acredita que as pessoas realmente comprem "that shit". Entrem no site dele para ver mais!

quinta-feira, 13 de março de 2008

Pela primeira vez...

Assolada pela síndrome pós-Brasil-inferno-astral-crise-dos-25, resolvi escrever um primeiro post nesse blog, criado há alguns meses, pouco depois de eu ter aterrissado em terras estrangeiras, mas que permanecia vazio... E agora, que estou de volta a essa massa cinzenta em que se transformou Londres, quero reclamar porque aqui não tem pastel, não tem chope a R$ 2,70, não tem mate de galão nem biscoito globo, que dirá uma praia (podia até ser de pedra, que eu nem reclamava, desde que houvesse sol), não tem torcedores do Flamengo que começam a cantar o hino do clube em pleno belmonte, nem torcedores que fecham o túnel rebouças, nem há túneis por aqui, aliás, assim como não há nada que se assemelhe à Lapa, pelo contrário, há lugares que fecham às 23h, de onde te expulsam com a mais gentil das estratégias de abrir a porta para que o frio entre (e ai de quem ousar fechá-la, vocês têm 5 minutos para terminar de beber), não há trocadores de ônibus que, em plena segunda-feira de calor, descem do ônibus para comprar dois cocos, um pra ele e outro pro motorista, na Lagoa, deixando os passageiros sem entender nada, até porque nem trocadores há, mas máquinas assassinas que engolem o teu dinheiro e te fazem andar no frio porque suas moedas acabaram, muito menos lagoas, o que há é um rio, onde amanhã tem uma festa em um barco, que vai de 19h45 à meia-noite, mas a qual eu não vou, porque o traje é black tie e uma festa black-tie num barco que vai de 19h45 à meia-noite me soa um baita de um programa de índio. Aqui também não tem calor, sabe, daqueles que te fazem sair do banho já suada, passar o dia inteiro reclamando e dormir feliz no ar-condicionado. O que tem aqui são casacos, intermináveis casacos, e camadas de roupa que você acha que um dia vão começar a diminuir, você sonha com o dia em que vai sair de bracinhos de fora e havaianas, exibindo suas unhas não-feitas por aí, mas esse dia não chega jamais. E aí pra piorar você vai fazer 25 anos. Quando eu soprar a vela do meu (não-existente) bolo no sábado, vou pedir pra andar de havaianas, comer pastel (de camarão com catupiry, claro) e pegar um ônibus com um motorista que vai parar pra tomar agua de coco na Lagoa.